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A Cor Púrpura


Sempre acreditei que um livro aparece para gente na hora que ele precisa ser lido. Nem antes, nem depois. Ou, caso apareça antes, ele ficará povoando a sua estante, esperando o tal momento. Esse livro foi exatamente esse caso: veio para mim no momento em que mais me interesso pelo feminismo, igualdade de gênero e afins.
Acompanho o Instagram de muitas editoras e sempre via postagens sobre o livro “A Cor Púrpura”. Não assisti ao filme. E para ser ainda mais sincera, apesar de saber que tinha a maravilhosa Whoppi Goldberg e que era dirigido por Spielberg, não fazia ideia do que se tratava. Sabe-se lá o motivo, eu comecei a desejar esse livro. Sabe quando bate uma curiosidade louca? Fiquei com isso na cabeça. Procurava e achava caro, aonde tinha disponível. Eu sei que ele veio parar em minhas mãos, em formato de ebook, por um site que disponibilizou uma promoção e quando eu vi ele, falei: “é agora!”
A história é passada nos Estados Unidos, no início do século passado, quando o racismo estava no seu auge (infelizmente). Ele é escrito, na maior parte, como cartas de Celie para Deus. Celie é uma adolescente negra, que vive na Geórgia e é violentada pelo pai diversas vezes, tendo dois filhos dele e ficando impossibilitada de engravidar. Os filhos são retirados dela e a única pessoa com quem Celie pode contar é sua irmã Nettie. Quando um homem tenta casar com Nettie, o pai das garotas oferece Celie no lugar. Chamado por ela de “Sinhô”, ele a trata com violência, desprezo, parecendo mais ser seu dono do que seu marido. Em comum, eles só têm o amor por Shug Avery, uma cantora. E acredite: você também vai amar Shug Avery.
“É difícil num amar a Shug, eu falei. Ela sabe como amar de volta.”
O livro de Alice Walker é um livro doloroso. Ele emociona do início ao fim pela sua beleza e por suas coisas feias, que não são só dele, são das pessoas que viveram e ainda vivem nesse mundo. É quase impossível não derramar lágrimas, porque as situações pelas quais Celie passa, dá uma sensação de impotência para quem está acompanhando, já que por mais que esses tempos tenham passado (pelo menos na teoria), é tão desumano a vida que o negro levava / leva, ainda mais sendo uma mulher negra e semi-analfabeta. É chocante pensar nisso. Nem me atrevo a dizer que me coloquei no lugar dela. Isso é impossível, ao menos para mim. Minha vontade, o tempo todo, era de poder ser “Deus” e responder à Celie. Tirar aquela mulher pobre, oprimida, mas de coração tão puro, daquela situação aterrorizante.
São tantas coisas ruins que acontecem na vida dessa mulher, que a pergunta mais óbvia que poderiam me fazer, é: por que eu leria esse livro? E a resposta é bem simples: porque Celie passa por cima de todas essas coisas que lhe acontecem e dá uma grande lição de vida para todo mundo que se aventurar a ler esse livro. No entanto, não é essa lição de vida que estamos acostumados a ver em filmes hollywoodianos. É além. Muito mais bonito, forte e profundo.
“Ela tá decidida a viver a vida dela e ser ela mesma num importa o quê.”
Na época de escola, tive que ler muitos livros obrigatoriamente. Muitos eram chatos e sem graça. Gostaria que esse livro tivesse sido passado. Alice Walker trata de maneira eficiente assuntos que precisam ser mostrados para adolescentes, para que saibam o mal que podem causar. Esses assuntos, basicamente, são o racismo e o machismo. Duas coisas que há tanto tempo matam e deixam vítimas nos quatro cantos do mundo. Duas coisas que não deveriam existir há tanto tempo, mas ganham vida até em candidatos à presidência, e estou falando do ano em que escrevo: 2017. Uma lástima! Existem mais temas abordados, como religião e a cultura africana.
Entre tantas coisas ruins e indigestas, há espaço para o amor, esperança e felicidade. É exatamente aí que está a redenção de tudo que nos machuca nessa leitura. Tudo o que falta para as pessoas é uma oportunidade, quem é inteligente a agarra e transforma sua vida. Para entender com intensidade o que são os direitos humanos, como as mulheres precisam se unir e como o racismo precisa ser extinguido, “A Cor Púrpura” é a melhor leitura que você pode fazer e passar adiante para alguém. Não é a toa, que venceu o prêmio Pulitzer de 1983, um dos prêmios mais importantes do mundo.
Vivemos em um tempo no qual as pessoas não entendem, ainda, o que é a desigualdade de gênero, a desigualdade racial e como elas influenciam, todos os dias, NEGATIVAMENTE, a sociedade. Já passou da hora de acordar. E, talvez, através de uma leitura dramática, inserida cedo na vida das pessoas, esse cenário consiga ser transformado. É preciso abrir a mente. Mas, acima disso, é uma leitura para qualquer época da vida. Inesquecível!
“Deixa ele escutar, eu falei. Se ele alguma vez escutasse uma pobre mulher negra o mundo seria um lugar bem diferente, eu posso garantir.”
Há uma nova edição no mercado, de 2016, com a ortografia revisada. Sua classificação é de 14 anos.
Livro: A Cor Púrpura
Autora: Alice Walker
Ano: 1982
Editora: José Olympio
Valor / Média: R$ 35,00
Onde encontrar: Lojas físicas e online
Formato: Impresso ou digital
Publicado originalmente aqui.

Depois a Louca Sou Eu


“Se eu sobreviver, vou escrever um livro sobre o medo.” E ela escreveu. Sem medo de expor o que a perturbava, Tati colocou em brilhantes páginas como é viver, sendo uma pessoa que sofre de síndrome do pânico e ansiedade.
Sempre fui fã de Tati Bernardi, pelas coisas que lia na internet (que, de repente, não eram exatamente dela, mas por colocarem o nome dela embaixo, eu já ficava ainda mais encantada), pela sua coluna na Folha de S. Paulo, por ser publicitária e roteirista de cinema (meu sonho).
Sempre quis ler um livro de sua autoria, mas por circunstâncias da vida, demorei e só consegui há um ano; e me apaixonei de vez. Comecei uma paixão platônica pelas palavras de Tati (as verdadeiras) e acho que não tem mais volta. Quero todos os livros dela. Quero conhecê-la!
Em “Depois a Louca Sou Eu” Tati fala sobre seus medos, suas tarjas pretas, sua ansiedade e crises de pânico com muito bom humor. Eu nunca passei por nada disso, mas conheço pessoas que já passaram por situações parecidas. O que mais me espanta é que esse número cresce a cada dia e a dependência pelas tarjas pretas também.
Infelizmente, não é todo mundo que encara, como Tati consegue encarar atualmente. Dei muita risada; mas ao pensar na mente 220w, que ela tem, fiquei de coração partido. Não deve ser fácil ter tantos conflitos dentro de si, com as coisas que, para mim, são básicas, como por exemplo: viajar no fim do ano para a praia, andar de avião, tomar decisões sem tantas preocupações irrelevantes (lendo você entenderá) e, entre outras, ir à padaria ou correr no parque.
Ao ler esse livro, criei uma simpatia maior por quem precisa que sejamos mais solidários. Doenças psicológicas não são bobagens. São doenças como qualquer outra, que necessitam de cuidados, acompanhamento e medicação. Fiquei feliz quando ela disse que está há cinco meses sem usar nenhum remédio. Acredito que seja um passo altamente significante, para quem precisa de suas drogas farmacêuticas por perto. Espero que todos consigam trilhar esse mesmo caminho e libertem-se.
Um livro maravilhoso para quem deseja uma leitura leve, sem rodeios, mas que manda a real. Uma real tão bem escrita, que parece que ela está ali, em sua frente, conversando com você. É quase impossível parar de ler, a não ser, que seja para rir. Diversas vezes eu parei só para ler para minha mãe o que estava me fazendo rir tanto.
Porém, com todos esses conflitos, inseguranças, fobias… Ela é uma mulher forte, que soube usar suas particularidades de forma inteligente e transformar em sucessos, seja através de livros, cinema… Rir de si mesmo é um privilégio para poucos.
Esses detalhes só comprovam, que quando há oportunidade, quando há cuidados, carinho, atenção… e algumas tarjas pretas, é claro, os quadros patológicos podem ser revertidos em bom humor, dinamismo e “tocar” as pessoas, não somente as distraindo, mas também as alertando, porque tudo o que é escrito, apresentado, é a sua própria realidade.
PS: Quando comecei a ler o livro, não sabia do que se tratava; foi uma surpresa. Talvez eu precisasse, para conseguir ser melhor comigo mesma e com quem precisa.
PS: Nunca vou esquecer da questão viajar X molhar as plantas. Acho que nunca ri tanto em minha vida.
Tati, OBRIGADA!
Livro: Depois a Louca Sou Eu
Autora: Tati Bernardi
Ano: 2016
Editora: Companhia das Letras
Valor / Média: R$ 25,00
Onde encontrar: Livrarias físicas e online
Formato: Impresso ou digital

Publicado originalmente na coluna "Café com Alice", no site "Feminino e Além".
http://femininoealem.com.br/24647/depois-a-louca-sou-eu/