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25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo



25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

Alguns sonhos, quando ultrapassam a barreira que os separam da realidade, acabam nos frustrando, infelizmente. Foi isso o que aconteceu comigo, na minha primeira Bienal, em São Paulo. Para uma pessoa apaixonada por livros, a Bienal parecer uma espécie de Disney. Fui cheia de sede e acabei numa maré rasa e lotada.

A fila para pegar o ônibus oferecido pelo evento era imensa, mas até que andava rápido, deu para relevar. Eu já deveria imaginar que era uma amostra do que estava por vir. Ver tanta gente retornando tão cedo, me deixou com uma pulga atrás da orelha. Eu sempre achei que o mínimo para se ficar na Bienal era o máximo que pudesse. Segui em frente.

Ao chegar no Pavilhão do Anhembi, fiquei na fila para comprar o ingresso. Levei uma hora ou mais para conseguir um pedaço de papel que me levaria a um sonho realizado. Para entrar, vi filas enormes, mas uma catraca sem ninguém. Arrisquei, mesmo sabendo que poderia ter perdido duas posições da fila ao lado. Deu certo, estava dentro do que achei que seria um mar de cultura, mas era um mar de filas intermináveis, gente sentada no meio do caminho, literalmente, e frustrações.

Não consegui entrar em nenhum stand das editoras que sou fã. Até os das menores estava impraticável. A fila do banheiro era desumana! Uma emergência, você passaria, no mínimo, vergonha. A filas para comer, eram tão grandes, que eu me perguntava o motivo de sentir fome naquele local, a culpa só podia ser minha. Muito barulho, o que até aí seria normal, porém, considerando todos os fatores insuportáveis, tudo havia se tornado um fardo.

Em algum momento, consegui entrar em um stand, onde rolava uma pequena guerra para conseguir miniaturas da Turma da Mônica. As pessoas, insatisfeitas por não acharem seus personagens favoritos, jogavam os bonecos de um lado para o outro, sem nenhum senso de que outra pessoa poderia querer. Os livros rejeitados, eram jogados em cima das mesas, danificando algumas partes. Contudo, consegui a biografia de Bruce Springsteen, que queria há tanto tempo e sempre estava caríssima, uma enciclopédia dos Smiths e Morrissey, um pouco danificada, e uma Graphic Novel. Graças a Deus! Ou sairia mais frustrada do que nunca.

Senhas para assistir uma palestra ou conseguir autógrafo eram impossíveis. Ou você levava um banco ou penaria em pé, horas numa fila. Na única fila que consegui encarar para comprar os livros, conversei com uma moça que disse que nunca viu a Bienal daquele jeito. Ela estava assustada e me contou que havia ido em outras edições do evento. Disse que na parte da comida sempre houve filas gigantes, mas banheiro e stands... ela estava surpresa e triste.

O que achei que seria cansativo de uma forma positiva, foi cansativo no pior sentido da palavra e frustrante. Pelo menos, a biografia do Boss está em minhas mãos e, em breve, terei uma crítica de um dos nomes mais importantes da história do rock para publicar. Tenho a mais absoluta certeza de que essa sede será saciada.

Sobre a edição de 2020, quero ir por alguns motivos. Um deles, é ver se realmente houve uma grande falha na organização desse ano, se eu dei um leve azar ou se, realmente, é assim mesmo e todas as pessoas com quem conversei, e me disseram que estavam espantadas com aquela bagunça, se equivocaram. Não tem jeito: os livros me transformaram numa pessoa esperançosa e eu não desisto até chegar na última página!

Postado originalmente: https://femininoealem.com.br/musica-e-fotografia/literatudo/25a-bienal-internacional-do-livro-de-sao-paulo/ 

A Cor Púrpura


Sempre acreditei que um livro aparece para gente na hora que ele precisa ser lido. Nem antes, nem depois. Ou, caso apareça antes, ele ficará povoando a sua estante, esperando o tal momento. Esse livro foi exatamente esse caso: veio para mim no momento em que mais me interesso pelo feminismo, igualdade de gênero e afins.
Acompanho o Instagram de muitas editoras e sempre via postagens sobre o livro “A Cor Púrpura”. Não assisti ao filme. E para ser ainda mais sincera, apesar de saber que tinha a maravilhosa Whoppi Goldberg e que era dirigido por Spielberg, não fazia ideia do que se tratava. Sabe-se lá o motivo, eu comecei a desejar esse livro. Sabe quando bate uma curiosidade louca? Fiquei com isso na cabeça. Procurava e achava caro, aonde tinha disponível. Eu sei que ele veio parar em minhas mãos, em formato de ebook, por um site que disponibilizou uma promoção e quando eu vi ele, falei: “é agora!”
A história é passada nos Estados Unidos, no início do século passado, quando o racismo estava no seu auge (infelizmente). Ele é escrito, na maior parte, como cartas de Celie para Deus. Celie é uma adolescente negra, que vive na Geórgia e é violentada pelo pai diversas vezes, tendo dois filhos dele e ficando impossibilitada de engravidar. Os filhos são retirados dela e a única pessoa com quem Celie pode contar é sua irmã Nettie. Quando um homem tenta casar com Nettie, o pai das garotas oferece Celie no lugar. Chamado por ela de “Sinhô”, ele a trata com violência, desprezo, parecendo mais ser seu dono do que seu marido. Em comum, eles só têm o amor por Shug Avery, uma cantora. E acredite: você também vai amar Shug Avery.
“É difícil num amar a Shug, eu falei. Ela sabe como amar de volta.”
O livro de Alice Walker é um livro doloroso. Ele emociona do início ao fim pela sua beleza e por suas coisas feias, que não são só dele, são das pessoas que viveram e ainda vivem nesse mundo. É quase impossível não derramar lágrimas, porque as situações pelas quais Celie passa, dá uma sensação de impotência para quem está acompanhando, já que por mais que esses tempos tenham passado (pelo menos na teoria), é tão desumano a vida que o negro levava / leva, ainda mais sendo uma mulher negra e semi-analfabeta. É chocante pensar nisso. Nem me atrevo a dizer que me coloquei no lugar dela. Isso é impossível, ao menos para mim. Minha vontade, o tempo todo, era de poder ser “Deus” e responder à Celie. Tirar aquela mulher pobre, oprimida, mas de coração tão puro, daquela situação aterrorizante.
São tantas coisas ruins que acontecem na vida dessa mulher, que a pergunta mais óbvia que poderiam me fazer, é: por que eu leria esse livro? E a resposta é bem simples: porque Celie passa por cima de todas essas coisas que lhe acontecem e dá uma grande lição de vida para todo mundo que se aventurar a ler esse livro. No entanto, não é essa lição de vida que estamos acostumados a ver em filmes hollywoodianos. É além. Muito mais bonito, forte e profundo.
“Ela tá decidida a viver a vida dela e ser ela mesma num importa o quê.”
Na época de escola, tive que ler muitos livros obrigatoriamente. Muitos eram chatos e sem graça. Gostaria que esse livro tivesse sido passado. Alice Walker trata de maneira eficiente assuntos que precisam ser mostrados para adolescentes, para que saibam o mal que podem causar. Esses assuntos, basicamente, são o racismo e o machismo. Duas coisas que há tanto tempo matam e deixam vítimas nos quatro cantos do mundo. Duas coisas que não deveriam existir há tanto tempo, mas ganham vida até em candidatos à presidência, e estou falando do ano em que escrevo: 2017. Uma lástima! Existem mais temas abordados, como religião e a cultura africana.
Entre tantas coisas ruins e indigestas, há espaço para o amor, esperança e felicidade. É exatamente aí que está a redenção de tudo que nos machuca nessa leitura. Tudo o que falta para as pessoas é uma oportunidade, quem é inteligente a agarra e transforma sua vida. Para entender com intensidade o que são os direitos humanos, como as mulheres precisam se unir e como o racismo precisa ser extinguido, “A Cor Púrpura” é a melhor leitura que você pode fazer e passar adiante para alguém. Não é a toa, que venceu o prêmio Pulitzer de 1983, um dos prêmios mais importantes do mundo.
Vivemos em um tempo no qual as pessoas não entendem, ainda, o que é a desigualdade de gênero, a desigualdade racial e como elas influenciam, todos os dias, NEGATIVAMENTE, a sociedade. Já passou da hora de acordar. E, talvez, através de uma leitura dramática, inserida cedo na vida das pessoas, esse cenário consiga ser transformado. É preciso abrir a mente. Mas, acima disso, é uma leitura para qualquer época da vida. Inesquecível!
“Deixa ele escutar, eu falei. Se ele alguma vez escutasse uma pobre mulher negra o mundo seria um lugar bem diferente, eu posso garantir.”
Há uma nova edição no mercado, de 2016, com a ortografia revisada. Sua classificação é de 14 anos.
Livro: A Cor Púrpura
Autora: Alice Walker
Ano: 1982
Editora: José Olympio
Valor / Média: R$ 35,00
Onde encontrar: Lojas físicas e online
Formato: Impresso ou digital
Publicado originalmente aqui.

A Garota do Calendário


Passado o primeiro semestre, será que Mia sobreviveu ao seu novo estilo de vida?
Para quem não sabe de quem estou falando ou para quem não lembra, vou fazer uma breve retrospectiva: Mia Saunders é uma garota comum, mas que precisa se virar para pagar a dívida de um milhão de dólares do pai, que é viciado em jogo. O único trabalho que a aspirante a atriz consegue, para receber tão bem em tão pouco tempo, é o de acompanhante de luxo. Ela não precisa ter relações sexuais com seus clientes, mas se quiser… bem, é um bônus. Para isso, Mia irá para cidades diferentes, onde ficará com o cliente do respectivo mês.
Nos primeiros seis meses, o leitor é introduzido no universo de Mia, conhecendo mais sobre a carismática personagem e as pessoas que a rodeia, o que ela faz e como foi se meter na confusão do pai. É difícil não se encantar por uma mulher com tanta personalidade. Junto com Mia, vem sua amiga divertida e apaixonante Ginelle e sua irmã fofa Maddy. Os personagens masculinos, que aparecem ao longo dos meses, são de suspirar. Difícil imaginar homens tão bacanas, que pagam por tal serviço. Apesar de que, abrimos mais cabeça para o trabalho de Mia. A questão é que ao fim do primeiro semestre, as coisas ficam conturbadas e só a partir de julho é que conseguimos obter uma resposta sobre o que aconteceu.
Infelizmente, qualquer detalhe que eu cite, é spoiler pesadíssimo e vai perder a graça na hora da descoberta. Apesar de que, a própria autora solta vários spoilers do livro, nele mesmo, o que poderia ser mais sútil, mas fica longe de ser. No entanto, não há muita novidade nos livros de Audrey Carlan. Por mais que seja uma narrativa nova, dividida em meses, não traz muito suspense ou drama, que a gente não consiga prever no início de cada livro. A verdade é que inovação quase nunca é encontrada em romances eróticos, como “A Garota do Calendário”. É sempre uma garota “humilde”, de personalidade forte, seduzindo um cara (ou mais caras, nesse caso) poderoso, que se apaixona fortemente pela garota e faz de tudo para ficar com ela. No entanto, se eu disser que perde a graça, estaria sendo injusta. A sensação é que os últimos meses atiçam ainda mais a curiosidade do leitor para saber o que vai acontecer com Mia.
E se prepare porque vai acontecer bastante coisa. Mia Saunders vai tentar se recuperar de um trauma, ficará devendo mais dinheiro, terá um encontro inesperado, reviverá um passado doloroso, conhecerá pessoas apaixonantes, ficará cara a cara com o seu maior inimigo, descobrirá fatos inesperados sobre seu passado, lidará com feridas abertas recentes do seu amor… e tudo isso terá um final em dezembro.
Os livros continuam com a linguagem dos seis primeiros: leve e rápida. O romance continua presente e fica mais forte do que antes. Com quem será? E a sensualidade, em um determinado ponto do livro, achei bem doentia. Nada que não tenha explicação. Agora, se a explicação convence, são outros 500…
Não é para esperar uma obra-prima, muito menos, um clássico da literatura. “A Garota do Calendário” é para somar na categoria de romances eróticos, que estão estourados mundo a fora. E ele cumpre o que promete. De janeiro a dezembro, não há como se decepcionar com o universo criado por Audrey Carlan. É claro que em alguns momentos há uma certa monotonia, entretanto, algo normal para uma série. Nenhuma sai ilesa dos momentos mais chatos. Entretanto, no último semestre do ano de acompanhante de luxo da protagonista, mistérios e descobertas irão tirar o leitor da zona de conforto e fazer com que ele queira mais.
Minha recomendação continua a mesma dos seis primeiros meses: para quem gosta de uma leitura mais rápida, por não ter tempo ou por não conseguir se prender a algo muito longo. E, também, para quem leu algum dos primeiros meses, continue a ler, não há arrependimentos nessa saga. Para quem quer começar uma nova aventura: indicado também. E para quem quer só quer desopilar do dia a dia: olha aí uma opção. Com Mia Saunders o ano passa e você nem percebe.
“Confie na jornada.”

Livro: A Garota do Calendário (Julho, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro, Dezembro)
Autora: Audrey Carlan
Editora: Verus Editora
Valor / Média: R$ 16,00
Onde encontrar: Lojas físicas e online
Publicado originalmente aqui.

Mosquitolândia


“Um livro que fala da doçura da vida, da coragem de quem ama e do que precisamos nos afastar para enxergar o que está ao nosso redor.”
Passeando, para variar, numa livraria, vi uma capa que me chamou atenção e fui ver sobre o que se tratava. Li a citação acima e pensei: “QUERO”. Comprei e levei mais de um ano para ler (aquela velha lista de livros que pretendemos ler, mas sempre colocamos outros na frente, e nunca para de crescer). As circunstâncias que me levaram finalmente a ler são inusitadas.
Observe como as coisas são (do baianês: repare só!).
Ao ver no Facebook, sobre um grupo no WhatsApp, o “Sanatório Literário”, vi que “Mosquitolândia” era o “proibidão” do grupo. Ninguém poderia falar sobre ele. Fui perguntar o motivo e me informaram que um membro do grupo havia lido e implorava para que os demais lessem, a fim de poder comentar, e acabou virando uma piada interna. Entrei no grupo e fui ler.
O livro é narrado por Mary Iris Malone, apelidada de Mim, uma garota de dezesseis anos, com alguns problemas físicos e psicológicos, que ao ser chamada na sala do diretor da escola, ouve uma conversa sobre o estado de saúde de sua mãe e resolve embarcar em uma aventura, a fim de encontrar sua genitora, para ficar ao seu lado no momento tão difícil. Sua mãe está em Cleveland, outro lado do mapa, já que Mim está no Mississipi com seu pai e sua madrasta. Uma longa jornada!
Após roubar o dinheiro escondido de sua madrasta, a garota compra uma passagem de ônibus e cai na estrada. No seu caminho, Mim escreve cartas para Isabel, uma personagem de extrema importância, mas que não está ali. As cartas repletas de verdades, até mesmo as mais assustadoras, sobre como o mundo e as pessoas são, passam a ser uma confissão de Mim, para aquela pessoa e para o leitor. A forma que ela conta, sobre o sente e vê, é repleta de imaginação e é possível sentir que, na maior parte das vezes, não há como passar isso para outro. Por carta, talvez, seja mais fácil; até mesmo porquê, não é necessário enviá-las.
O estilo road trip é um velho conhecido, mas a história de David Arnold é cativante o suficiente para não cair na mesmice. O clichê básico é inegável, mas as emoções que são passadas nesse livro, nas descobertas que Mim faz sobre ela mesma e sobre o mundo a sua volta, são emocionantes. Diversas vezes, me vi encantada pelos personagens dessa história deliciosa e intensa. A leitura do maravilhoso livro de David Arnold é leve, profunda, fácil e só peca por não ter mais volumes. O tipo de livro que merece ser lido durante a vida, algumas vezes, porque sempre haverá uma mensagem para o “aquele” momento.
É importante saber, como Mim sabe, quando não se está bem e que se pode, de alguma forma, ajudar a melhorar a situação. Entretanto, mesmo com todo o peso da sua própria existência confusa e rebelde, há espaço para outras pessoas que precisam de ajuda tanto quanto ela. Um garoto com síndrome de down e um garoto com uma câmera na mão, se juntam a Mim nessa trajetória que, na minha cabeça, daria / dará um belo roteiro para o cinema.
“Mosquitolândia” traz a vida através do olhar de uma adolescente, que tem um objetivo e não deixará nada a atrapalhar. Amizade, amores, decepções, saúde, família… um livro cheio de sentimentos e sentidos, que encanta do início ao fim e, mesmo que o final seja um tanto quanto previsível, o que conta mesmo é a fantástica jornada.
“Todo bom personagem, Isa, seja na página ou na tela, é multidimensional. Os mocinhos não são de todo bons, os vilões não são de todo maus, e não deveria existir qualquer personagem que seja apenas uma coisa ou outra.”
Prepare-se para sorrir, chorar, se apaixonar e conhecer um pouco mais sobre você mesmo; porque pode até parecer bobagem, mas é improvável que ao ler esse livro, você não acabe se conhecendo um pouquinho mais do que antes. Prepare-se, também, para conhecer personagens inesquecíveis e, até, sentir saudade deles, quando o livro, infelizmente, acaba. E, sem qualquer dúvida da afirmação que vou fazer: um dos melhores livros que li este ano, quiça, na vida.
“Às vezes, uma coisa só tem validade depois que é dita em voz alta.”

 Livro: Mosquitolândia
Autor: David Arnold
Ano: 2015
Editora: Intrínseca
Valor / Média: R$ 25,00
Onde encontrar: Lojas físicas e online
Formato: Impresso ou digital
Publicado originalmente aqui.

Louco Amor de Fã e o Young Adult


Na onda de ler autores nacionais, toda vez que tenho a oportunidade de conhecer um autor novo, me jogo. Foi assim que conheci a autora Sheila Lima Wing. Passeando pelo feed do Instagram, vi a possibilidade de parceria e me candidatei. Cá está o resultado.
“Louco Amor de Fã” traz a história de Madori, a mais nova de quatro irmãs com um pai insuportável e uma mãe sem voz. Madori sofre por sua família não entender o seu jeito. Apaixonada pelas palavras do colunista Teo Queiroz, aos 15 anos, ela só tem olhos para a escrita profunda e sincera do menino de 18 anos, que não revela seu rosto. Um amor ingênuo, que qualquer adolescente pode nutrir durante essa fase, mas geralmente é por cantores de boy bands ou atores. Quando seu amor é descoberto pelas irmãs, Madori sofre com o deboche das meninas chatas e deixa para lá. Alguns anos depois, ela passa a dividir o apartamento com a melhor amiga, que parece não ter saído da fase de fã e está encantada com um cantor sertanejo. Por acidentes da vida, esse cantor vai para na casa delas junto com uma amiga e Madori, que já não acredita mais em romance, vai precisar se esforçar para manter os pés da amiga no chão, aguentar o famosinho metido e lidar com as novas possibilidades de afeto.
A escrita de Sheila é fácil e leve, apesar de ter muita menção à animes (não acompanho e apesar das explicações, não me dizia nada). A leitura de “Louco Amor de Fã” me fez lembrar da minha época de assinante de revistas teen, que tinham fotos dos meus ídolos, entrevistas e várias matérias legais. Pelo tema e até mesmo pela escrita, é um livro direcionado ao público mais jovem. Considerado Young Adult, o público-alvo está na faixa dos 14 aos 21 anos. Há quem diga que a faixa pode ser, também, dos 15 aos 29 anos, abrangendo o público chamado de kidults, que são adultos que mantém os hábitos adolescentes. A diferença entre o Young Adult e o infantojuvenil, é que os protagonistas ganham um ar mais adulto e ficam menos inocentes, assumindo uma postura mais responsável diante da vida. A classificação pode passear por todos os gêneros: drama, terror, suspense, romance… contudo, quase sempre haverá um pouco de humor e ironia. Os temas mais abordados nesse estilo, costumam ser os que os jovens enfrentam frequentemente. No caso de Madori, é o problema familiar e a falta de crença no romance. Pode haver bullying, dificuldade de se relacionar, desigualdade social… entre outros.
É um estilo que está conseguindo entrar na casa dos jovens e fazer com que os adolescentes se interessem pela leitura, talvez pela identificação com os protagonistas e a possibilidade de encarar os problemas do dia a dia com uma nova atitude. Para quem repreende, acha que não é a leitura adequada, peço para que reflita que pode ser a porta de entrada para a leitura. As sagas de “Harry Potter”, de J.K. Rowling e “Crepúsculo” de Stephanie Meyer, além do famoso “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger são exemplos bem-sucedidos do estilo. “O verdadeiro analfabeto é aquele que aprendeu a ler, mas não lê.”
“Louco Amor de Fã” é divertido e tem uma história legal, bastante fluida, gostosa de ser lida. Um bom presente para quem quer iniciar algum jovem na leitura ou para quem quer incentivar quem já tem o bom hábito. Certamente, agradará mais o público feminino. E pode ser lido, sim, pelo público mais velho, como uma distração. O livro pode ser encontrado no formato ebook na Amazon ou no formato tradicional no site Clube de Autores.
Publicado originalmente aqui.

Meu Deus, Mas que Cidade Linda


Sabe aqueles livros que você não sabe o que esperar, mas mesmo assim se aventura? Meu caso com o livro de Rodolfo Melo foi exatamente esse. Após um bate-papo curto, através de e-mails com o simpático autor, não quis ler a sinopse. Tenho dessas coisas. Às vezes, gosto de começar algo do zero para não criar expectativas.
Quando comecei, vi que era um livro de contos. Sou viciada em contos. Já estava aí, um ponto positivo. Então, comecei a ler e tive uma surpresa. O primeiro conto, “Um Crime no Condomínio”, já foi um soco na boca do estômago. É o tipo de história que te revolta, te emociona e que te faz querer mudar o mundo.
Achei maravilhoso. Queria postar nas redes sociais para que as pessoas lessem e entendessem o recado por trás da ficção. Ora bolas! Existe ficção nessa vida? No caso desse livro, toda a ficção grita a sua realidade, muitas vezes, cruel. Tenho o costume de ler com mais intensidade nas madrugadas. Confesso que quando acabava um conto, eu não ia dormir direito. Era um tempinho chocada, maravilhada e pensativa, depois, um tempinho para digerir.
Não vou detalhar os textos do autor, são 19 ao todo, porque quero dar a chance de você, que vai ler, ser tão surpreendido como eu. Em cada página, eu que sou apaixonada por audiovisual, já criava as cenas para uma série na cabeça: cada conto, um episódio. Quem sabe não levemos isso para a prática?! O cenário de cada trama, é a belíssima Brasília. Um lugar que há tempos não conseguimos extrair algo que não seja a política vergonhosa. E olha que há um conto (Café com Leite) que envolve um deputado malandro, bem com a cara da Câmara dos Deputados do nosso país.
Os contos de Rodolfo Melo são ácidos e podem causar mal-estar àqueles que não estão acostumados com uma leitura mais violenta. Não se engane achando que a violência é aquela que deixa o sangue escorrer pelas páginas e molhar as mãos do leitor. Tem essa, também. Mas a maior violência ali, é você identificar momentos que vive no dia a dia e sentimentos que podem despertar dentro de você a qualquer minuto. A solidão, o medo, o amor, a revolta, o preconceito, o racismo, a ganância, a opressão e tantos outros.
No conto “O Poeta Que Não Amava Ninguém”, tem escrito o seguinte:
“Porém, não sabia ele que o destino é um escritor meticuloso, inspirado no caos, para definir o roteiro vital da humanidade. E, por mero capricho literário, não manda sinais sobre sua obra para não estragar seus finais surpreendentes.”
Me pergunto se, nesse caso, o “destino” tem o nome de Rodolfo Melo e nos surpreende em cada final de seus contos maravilhosos.
“Meu Deus, Mas que Cidade Linda” é um livro que entrou para minha estante e que, vez ou outra, eu voltarei a ler para enaltecer as histórias que estão ali dentro. As ilustrações da Capital do Cerrado são lindas!
A literatura nacional de contos é genial e precisa ser levada para o grande público. Não podemos deixar autores brilhantes engavetados ou no anonimato. Esses nomes necessitam e, mais do que isso, merecem ser divulgados.
Esse é o segundo livro do autor, que surpreendentemente não é de humanas! Rodolfo é formado em Pedagogia e Matemática. O primeiro, “Contos de Amor e Ódio”, de 2013, também reúne contos. E eu já estou louca para ler!
“Meu Deus, Mas que Cidade Linda”, tem 144 páginas e é da Editora 42.
Publicado originalmente aqui.