Big Little Lies


Mais um livro de sucesso foi adaptado e se tornou uma minissérie.  Dessa vez, a história passa longe do drama adolescente de “13 Reasons Why” e fala da vida adulta, de como ela pode ser dura, crítica e superficial, apesar das aparências. Um drama cheio de suspense e muito bem narrado, que surpreende desde o elenco de peso até suas tramas intrincadas.
No livro de Liane Moriarty e na série da HBO, a trama central tem como base três mulheres: Madeline, Celeste e Jane, interpretadas por Reese Whitherspoon, Nicole Kidman e Shailene Woodley, respectivamente. Só por esses três nomes você pode ter ideia de que o investimento em qualidade, ao menos do elenco, já foi excepcional. Contudo, os grandes nomes não param por aí; ainda tem Alexander Skarsgard, Laura Dern, Zoë Kravitz e James Tupper.
Jane, mãe solteira, chega na cidade de Monterrey, na Califórnia com seu filho Ziggy (interpretado por Iain Armitage, que é fantástico). Ela não tem as melhores condições financeiras e é mais nova do que as demais mães. No primeiro dia de aula, após conhecer Madeline e Celeste, ao buscar o filho na escola, Jane se depara com uma coleguinha do garoto o acusando de machucá-la; ele nega. Amabela, a garotinha agredida, é filha da empresária Renata, interpretada pela maravilhosa Laura Dern, personagem que merece sua atenção. A partir daí, os problemas da jovem mãe começam e parecem não ter fim. Para amenizar o terror de chegar numa cidade nova e despertar o desprezo das outras mães, Jane ganha o apoio das personagens de Reese e Nicole, que são como os “pilares” da comunidade.
A história não é narrada de forma linear. Alguns fatos vão e voltam aumentando o suspense e a curiosidade de quem está assistindo / lendo. São os pais e as mães, incluindo as personagens principais, que vão construindo a trama a medida que prestam depoimento para a polícia para a resolução de um assassinato. Obviamente, há diferenças enormes do livro para a série. Alguns eu até senti falta, porém para quem não leu o livro, a trama fica na medida certa, sem dever nada.
O casamento de Celeste e Perry, visto de fora, é um sonho. Considerados um dos casais mais bonitos e ricos, com filhos gêmeos encantadores, a inveja de quem está de fora cega completamente a ponto de não deixar que enxerguem que o casamento dos sonhos é uma fachada destruída pela violência doméstica. Celeste apanha do seu marido controlador e ciumento, que parece se arrepender depois de bater em sua esposa e tenta compensar seus atos com presentes caros. Um bom pai para as crianças, um pesadelo para qualquer mulher que possa tê-lo como marido.
Madeline é espontânea, mas não consegue seguir em frente (por completo) quando se trata do seu ex-marido, já que ele a abandonou após o nascimento de sua primogênita. O “cara”, agora apresenta a pinta de bom pai e marido, que só faz a personagem sentir mais raiva e acaba a distanciando da filha. Apesar dos problemas com o ex, Madeline é espontânea e cuida “dos seus”. Sua filha mais nova, Chloe, é uma das melhores personagens da série. Boa parte da sublime trilha sonora é por conta da garotinha. Entretanto, Madeline também é falha e comete erros “humanos” como qualquer outra pessoa. Sua vida “perfeita” está tão longe da perfeição como qualquer outra.
Sobre o assassinato,  não sabemos quem é a vítima, nem quem é o assassino até o final da série ou do livro. Para quem tem o faro bom para esse tipo de história, a vítima é óbvia. Já o assassino é mais complicado, porque várias pessoas têm motivos para matar (não estou justificando um assassinato, pelo amor de Deus, é só pela lógica da narrativa). O crime ocorre durante uma festa beneficente na escola, para os pais, que tem o tema “Elvis e Audrey”. A festa é regada a música boa, fantasias maravilhosas e aparências indo por água abaixo.
São sete episódios, todos dirigidos por Jean-Marc Vallée (Clube de Compra Dallas). A direção é madura para temas que exigem um olhar mais firme. A apresentação desses temas e seus desenvolvimentos são trabalhados de forma competente, apesar de deixar algumas questões em aberto. Não é uma falha, mas como o livro tem um desfecho maior e as histórias das personagens são abordadas com mais profundidade, eu fiquei com uma sensação de que algo ficou a desejar. Mas já é sabido que em 99% dos casos, quando uma história da literatura é adaptada para o cinema ou TV, a sensação é de que sempre irá faltar algo. Logo, não acho justo diminuir a qualidade narrativa e a direção de “Big Little Lies”.
Nunca tinha lido nada de Liane Mortiarty, mas diante dessa apresentação maravilhosa de sua escrita, já providenciei outros livros da autora, que parece seguir na linha de drama / suspense com muita competência, tratando de assuntos sérios numa linguagem voltada para adultos. Uma leitura mais madura para quem se envolver e não consegue sair da literatura juvenil. Assim como Gillian Flynn, a maravilhosa autora do excepcional “Garota Exemplar”, parece que Liane gosta de ter protagonistas femininas marcantes em suas tramas.
Essa é a minha indicação para quem quer começar uma leitura empolgante, impossível de largar. Ou para quem quer começar uma série rápida, mas fisga e que vai ficar martelando em sua cabeça a cada episódio assistido. Pelo menos, eu recomendei a uma amiga e ela me disse que fechava os olhos e pensava na série ou ficava escutando as músicas. Se eu for “pirar”, levo um monte junto comigo.
Li sobre a possibilidade de uma segunda temporada. Não sei se ocorrerá, de fato. Mas Reese, aparentemente, está empolgada para isso. Ela e Nicole assinam a produção de “Big Little Lies”. De qualquer forma, não sei como seria essa segunda temporada e não sei se vale a pena investir num elenco tão poderoso e acabar não repetindo o sucesso da primeira temporada. Vamos aguardar para ver!
O livro foi lançado pela Editora Intrínseca e pode ser encontrado em qualquer livraria nos formatos físicos ou digitais. Está disponível com as capas de lançamento ou a capa da série.
Publicado originalmente aqui.

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