Estamos em pleno século XXI e as pessoas ainda não sabem respeitar as outras; principalmente quando se trata de um homem em relação a mulher. Obviamente, não estou generalizando e não faria isso, já que há muitos homens (menos do que eu gostaria), que solidarizam-se com as mulheres.
Mês passado, no dia 08 de março, Dia Internacional das Mulheres, vimos diversas postagens em comemoração, elogiando as mulheres; homens presenteando as mulheres, que os cercam, com flores, mas… Toda vez que surge um “mas”, a gente sabe que coisa boa não vem pela frente.
Poucos dias depois da data comemorativa, fomos bombardeados com notícias lastimáveis: Victor Chaves, da dupla Victor e Leo, agrediu sua esposa grávida, Poliana Chaves; José Mayer, ator global, assediou a figurinista da emissora; e para completar o vexame nacional, o participante do BBB, Marcos, foi expulso do programa, após agredir a namorada, que também está confinada na casa do reality show.
É muito pouco tempo para a gente assimilar tudo. Pior ainda, para entendermos a causa disso. Sempre achei o feminismo um exagero. Cresci vendo que feministas eram aquelas mulheres que deixavam os pelos das axilas grandes, iam para as ruas levantar as blusas e mostrar os seios e declarar ódio aos homens. Também não era machista; eu achava. Mas concordava, que mulher que apanha de homem e não sai de casa, é permissiva; então a culpa era dela, sim. Vi uma mulher com uma saia minúscula na rua e achei que se homem a assediasse, era culpa dela por usar uma roupa apelativa. Eu era machista.
Não sei dizer quando eu parei com esse tipo de pensamento e, graças a Deus, eu parei. Comecei a entender que é tudo muito maior do que uma saia, um vestido. Quantas mulheres são estupradas, todos os dias, e são culpadas por não estarem em casa? Elas estavam indo trabalhar, estudar ou se divertir. Não importa. Assim como os homens, nós mulheres, temos o direito de ir vir quando quisermos, a hora que quisermos.
O cantor Victor, afastado do programa que apresentava junto a seu irmão Leo (The Voice Kids), negou ter cometido qualquer tipo de agressão à sua esposa grávida. Antes mesmo, da declaração do cantor ao Fantástico, a suposta vítima havia retirado a queixa; por esse motivo, disseram que ela estava querendo chamar a atenção. Não entendi o que aconteceu realmente, mas achei tudo muito estranho. Provavelmente, antes, eu concordaria; mas a única coisa que pensei, foi que ela estava sendo ameaçada. Um cara, como Victor, tem influência, nome e uma carreira à zelar. Para mim, era óbvio que ele não ia querer perder tudo de uma hora para outra. O caso foi “meio que encerrado” pelo “júri popular”, quando a moça voltou atrás.
Quase superado o escândalo do cantor, surge o escândalo de José Mayer. Susllem Tonani escreveu no blog “Agora É que São Elas” sobre o assédio do ator, contando que até tocá-la ele fez sem sua permissão. A publicação foi tirada do ar; acontece que no mundo virtual as notícias correm mais rápido do que qualquer super-herói, e todos ficaram sabendo. Tarde demais, Zé Mayer, você foi exposto. Ainda bem. Eu, que considerava o cara um dos maiores galãs do país, não consegui ler o relato todo, apenas me decepcionei inteiramente com ele.
Na primeira vez em que o ator se pronunciou, sobre o caso, foi cínico a ponto de falar que a moça o estava confundindo com “Tião Bezerra”, seu personagem na novela “A Lei do Amor”, que estava no ar, na época. Aquilo me deu ainda mais nojo. Uns dias depois, parece que bateu a percepção do erro (ou sua emissora o obrigou a fazer um comunicado), ele pediu desculpas e confirmou ter assediado a figurinista.
Entre as confusões criminosas de Zé Mayer, volta o escândalo de Victor. Dessa vez, foram encontradas provas de que houve uma contravenção penal contra a mulher, Poliana Chaves. Como o processo corre em segredo de justiça, não há como saber por qual a contravenção o cantor foi denunciado, pelo Ministério Público. De qualquer forma, ponto para o órgão competente, que não ficou parado.
Como se tudo isso já não fosse o bastante, vem o BBB com o casal mais insuportável de todos os tempos, Marcos e Emily, com mais um caso estúpido de suspeita (preciso usar essa palavra, mesmo depois de um país inteiro ter visto as cenas) de agressão à mulher. O médico Marcos Harter, se descontrolou algumas vezes, na casa, e saiu proferindo desaforos a diversos participantes confinados, inclusive à sua amada. Com ela, há muito, já se falava da forma abusiva como a tratava, afastando a menina dos amigos, dizendo como deveria se comportar etc. O limite foi atingido, não sei ao certo quando, mas vi três atitudes assustadoras do doutor; a primeira, em um dos seus acessos de raiva, encurralou Emily contra a parede, colocou o dedo no rosto dela e gritou bastante. A segunda, quando no lado externo da casa, ele a deita no chão, a prende com o corpo e segura a sua cabeça movimentando lentamente contra o chão, algumas vezes, tendo uma crise de choro e falando algumas coisas para ela. A terceira, foram as marcas de roxo no braço dela, pela forma como ele a segurou, e ela própria falando que estava dolorida.
Minha mãe me disse, que certa vez ele falou que se alguma coisa acontecesse a ele no programa, a culpa seria de Emily. Emily não é uma santa, pelo pouco que vi do programa, achei essa menina insuportável. Entretanto, precisamos parar de jogar a culpa dos nossos atos para terceiros. Ele a agrediu! Fisicamente, mesmo que não tenha sido um espancamento, na maioria das vezes começa assim, com atitudes banais e psicologicamente. A lei Maria da Penha engloba o abuso psicológico, para quem não sabe. É mais do que agredir fisicamente, um relacionamento abusivo, está em atitudes em que, na maior parte das vezes, nem a pessoa sabe que é um abuso. O caso de Emily, que precisou ser avisada de que não estava errada, de que estava sofrendo com ele. Com todos os defeitos dessa menina, é necessário dizer: o culpado pelas atitudes de Marcos é um só, ele mesmo.
Marcos pediu desculpas e disse que nunca teve a intenção de machucá-la. Ótimo, Marcos. Não tinha que ter mesmo. Mas não diminui o que fez. Ela o levou ao limite; porém, não justifica. Ao perceber que estava perdendo a linha, e pelo fato de já ter passado por tratamento, há anos, ele poderia ter se afastado, ter pedido à produção que a expulsasse, já que quando uma pessoa provoca a outra, ao ponto da que é provocada ter vontade de agredir, é passível de penalidade. Mas ele não fez nada disso. Ele foi causando abuso psicológico, até chegar na parte física, e ela, como muitas mulheres, sentiu necessidade de desculpar-se, por isso. Penso que Emily deveria ser eliminada, sim. Sou completamente contra pirraça, chateação e incitação; coisas que ela fez, mas não justifica em nenhum ponto a atitude dele.
Com todos esses casos lamentáveis, me vi revoltada com os comentários que li, às vezes até sem querer, na internet; com o machismo de uma cultura patriarcal, que não defende as mulheres como deveria; com a culpa sendo sempre lançada sobre a vítima e não sobre o culpado. Vi um estádio de futebol levantar uma faixa com a frase “Somos Todos Bruno”, o goleiro que assassinou a mãe do seu filho, foi preso e agora, em liberdade condicional, se tornou um ídolo.
A inversão de valores, no Brasil, é preocupante! Quando vejo um caso como o de Victor, que foi levado à justiça, o de José Mayer, que assumiu e se desculpou (não sendo mais que sua obrigação, apesar de não mudar o crime, ainda acho que precisa ser punido judicialmente), e o de Marcos, que foi expulso do programa (o que pode parecer pouco, mas diante da realidade onde nada aconteceria a ele, já foi um grande passo), fico feliz por, mesmo em passos lentos, ver que a sociedade está começando a mudar e se posicionar diante de absurdos, que eram só vistos quando levados ao extremo; e quando digo extremo, falo em morte mesmo.
Com tudo isso, hoje, me enxergo mais feminista do que nunca. Consegui entender, finalmente, a importância desse movimento em todo o mundo. Inclusive, consigo enxergar que a causa vai além dos braços peludos e os peitos de fora; porém, penso que, até, isso não deveria chocar. O movimento quer a igualdade entre gêneros, não quer a soberania feminina, porque não deve haver soberania de nenhum sexo. É por isso, que é importante descontruir os gêneros. Não somos homens e mulheres, somos humanos. Não há diferença. Devemos ganhar o mesmo salário, termos o mesmo direito de ir e vir, o mesmo direito de usarmos a roupa que quisermos, sem termos que ser julgados ou assediados.
Uma mulher não é puta, porque sai de noite com os amigos. Ela não é provocadora, por usar minissaia. Nenhuma mulher merece ser estuprada! Não existe merecimento nenhum em sofrer um crime. Abuso, violência e assédio são condutas que precisam ser denunciadas, todas as vezes que vistas. Nós, mulheres, podemos ser o que quisermos e não cabe a ninguém julgar se está certo ou errado.
Caso perceba que alguma mulher está sofrendo e não consegue denunciar, falar sobre o caso, ajude. Central de Atendimento à Mulher: ligue 180
Publicado originalmente
aqui.