Há algum tempo me descobri apaixonada pelos cinemas argentino, espanhol, alemão e francês. Ricardo Darín e Leonardo Sbaraglia são dois nomes que ao ver em algum cartaz, eu já fico louca para assistir. Inclusive, o cinema nacional tem se encontrado com o cinema argentino e feito belas parcerias. Em setembro do ano passado, foi lançado o filme “O Silêncio do Céu” com a atriz Carolina Dieckmann, Leonardo e o filho de Ricardo, Chino Darín. Ainda não assisti, infelizmente. Mas teve uma boa repercussão. No mês passado, assisti no cinema “Neve Negra”, com os dois atores que citei primeiramente. Achei excelente. Um ritmo mais lento, que não agrada fácil, mas um roteiro e desenvolvimento bons.
A competência dos atores, a boa direção e os enredos fantásticos, fazem com que a gente saia um pouco do cinema hollywoodiano e se surpreenda com filmes europeus e com filmes que são produzidos do nosso lado. Se eu pudesse escolher, a rivalidade “Brasil x Argentina” seria cinematográfica, porque são dois países que trabalham muito bem a sétima arte. No entanto, aqui no Brasil, ainda não há o reconhecimento merecido. Não sei se para os “hermanos” funciona da mesma forma. Espero que não. Na Europa, felizmente, o reconhecimento é grande.
Esses dias, não tinha muito o que fazer e fui rodar sites para ler sinopses e descobrir filmes que não são tão populares no circuito, para sair do lugar comum. Queria algo que me surpreendesse. Fui para a categoria suspense, que é a minha favorita, se é que eu posso ter a ousadia de dizer que uma só é a favorita. Me bati com “Contratiempo”. A princípio, pensei que fosse argentino e já queria assistir, sem ler sinopse, nada. Geralmente eu faço isso: não leio sinopse, não vejo trailer. Vou pelo cartaz (aquelas que julgam o livro pela capa), pelo elenco ou pelo diretor. No elenco desse, vi que o nome do ator Mario Casas. Logo descobri que era um filme espanhol. Da Espanha, temos nomes fantásticos e que reconhecemos fácil: Javier Bardem, Antonio Banderas, Penelope Cruz, Eduardo Noriega e outros. Na direção, temos o fantástico Pedro Almodóvar. Agora, o meu favorito espanhol é Oriol Paulo. Apesar do trabalho dele como roteirista ser maior, os filmes que ele dirigiu (e também assinou o roteiro) são FABULOSOS!
“Um Contratempo”, como foi batizado aqui no Brasil, mostra Adrian Doria (Casas), um empresário jovem, muito bem sucedido, casado com uma bela mulher e uma filha pequena. Mas todo esse clima de “deu tudo certo na vida” muda quando Doria acorda num quarto de hotel e vê sua amante morta. Ele é acusado do assassinato dela e não tem nenhum álibi. Todas as provas estão contra ele. Para salvar seu pescoço, o empresário recorre a melhor advogada de defesa da Espanha e aí é que o jogo começa.
A história é contada por Adrian para a sua advogada. Ela não aceita furos, por isso eles conduzem a narrativa, indo e voltando, para poder encontrar os erros do que ele diz e reparar cada detalhe. No entanto, ela exige que ele diga a verdade para conseguir conduzir a defesa de forma que o juiz e promotor não consigam questionar. Ainda mais, quando eles descobrem que há uma nova testemunha, que está contra Doria. Um jogo de verdades e mentiras, de testes é iniciado e você não sabe o que aconteceu de fato. O filme inteiro é um mar de reviravoltas e quando alguma coisa começa a fazer sentido, não era bem como estava sendo apresentada. O final é um verdadeiro plot twist, que deixa qualquer Hitchcock chocado. O filme de Oriol não deixa você piscar, respirar ou fazer qualquer outra coisa que não seja assistir, definitivamente, ao filme.
É por isso que eu escolhi ele como dica. “Um Contratempo” é um filme de 2016, mas que não vi ninguém falar sobre, nem li sobre. Contudo, é, sem dúvidas, um dos melhores suspenses que já assisti. O final faz com que você coloque a mão na boca, fique com aquela cara de chocado e ria de nervoso. No Filmow, algumas pessoas disseram que gritaram. Não é o meme “o grito que dei”, foi literalmente mesmo. O cinema espanhol deu uma aula em “Um Contratempo”! Não duvido que, daqui a uns 2 anos, Hollywood queira fazer sua versão para o filme, assim como foi com o fantástico “O Segredo dos Seus Olhos”, filme argentino de 2009, que ganhou sua versão hollywoodiana “Olhos de Justiça” com Julia Roberts e Nicole Kidman, em 2015. O francês “Intocáveis” também ganhará seu remake hollywoodiano. Bryan Cranston, Kevin Hart e Nicole Kidman estão no elenco do filme que deverá estrear em março de 2018.
“Um Contratempo” está disponível na Netflix e é a sua melhor opção, hoje, no vasto catálogo do streaming. Separe a pipoca, o litrão de refrigerante e devore tudo no início, porque depois de um determinado ponto, você não conseguirá fazer mais nada.
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