Quando
eu era pequena, minha mãe tinha um pôster de Garfield, deitado, completamente
"de boas" e em cima tinha escrito: "VIVA O ÓCIO".
Eu
não sabia o que significava "ócio", mas eu adorava a cara daquele
gato e sentia que o tal do "ócio" devia ser uma coisa boa, afinal,
ninguém estaria tão confortável em uma coisa ruim.
Não
lembro se perguntei à minha mãe o significado ou se pesquisei no dicionário. Eu
sei que cresci apaixonada por Garfield e pelo ócio. E hoje, mais do que nunca,
descobri o quanto o ócio é essencial na vida de uma pessoa.
Quando
você trabalha tanto, a ponto de não ter tempo nenhum, inclusive para a
diversão, sente inveja de Garfield; aquele gato que sabe viver!
Ficamos
tão sem tempo para as coisas, que a vida passa e você começa a procurar
justificativas, como por exemplo: tudo de ruim é culpa do ano, porque é par; mas
chega o ano ímpar e nada melhora. Ou que a culpa é do planeta regente, que muda
10 vezes... entre outras; até que percebe que não é nada disso. Amigo, você
precisa mudar é de vida.
Ficamos
presos, por uma falsa segurança, na tal zona de (des) conforto, que chegamos a
considerar o "bom com aquilo, pior sem"; então vamos nos sufocando e
a ficha só cai, quando seu corpo grita: seja uma doença física ou mental, ele
grita; ah, grita, sim.
A
exaustão de ter que trabalhar tanto, somado a tudo que perdemos no dia a dia,
por estarmos cegamente cansados, de qualquer coisa, é irreversível. Então,
depois de doenças corporais e mentais, vem a doença da alma. Você se torna mais
um. E todas as coisas pelas quais você lutava e acreditava passam a ser
indiferentes.
Você
entra na caixinha do molde e se torna igual a todos os outros. Só quer
trabalhar, receber o salário, no fim do mês, e descansar sempre que pode. O
mundo lá fora? Tá rodando, né?!
"A
culpa é do sistema", eles dizem. Mas quem criou esse maldito? Eles
próprios.
É
difícil viver sem um emprego; precisamos comer. E até mesmo o mais básico dos
lazeres exige, ao menos, o transporte, que pode ser o público; mas que é pago
de qualquer forma.
Entramos
num túnel cheio e sem retorno, que nos obriga a nos transformarmos em pessoas
sem piedade, frias, calculistas, a fim de nos adequarmos, para suportarmos. A
vida humana não vale mais que um tênis Nike ou o último lançamento do iPhone.
Queria
ver Garfield e seu ócio, no meio disso tudo. Seria contaminado ou continuaria a
tratar Jon como seu escravo humano?
Garfield
não me parece o tipo de "pessoa" que se contamina. Um prato de
lasanha seguido por uma sonequinha e pronto; estão ali os maiores prazeres de
sua vida de realeza.
Cheguei
à conclusão, que preciso viver menos o estilo “Tempos Modernos” e ser mais
Garfield. E se o preço para conseguir ter paz, entre o que eu sou, o que eu
quero ser e que o mundo exige de mim, for começar do zero, correr riscos.... estou
dentro. Começo agora!
Viva
Garfield!
Domingo, 18 de dezembro de 2016
Texto de Rafa Icó
Revisão de Ana Paula Berenguer Icó