Entre Irmãs
Breno Silveira dirigiu, em 2005,
o aclamado “2 Filhos de Francisco”, sua estreia em longa. De lá para cá, deixou
a sua assinatura na direção de filmes maravilhosos como “Era Uma Vez...”, “Gonzaga
– De Pai Para Filho”, “À Beira do Caminho”, da série “1 Contra Todos” e agora
retorna às telonas com “Entre Irmãs”, com roteiro de Patrícia Andrade,
inspirado na obra de Frances de Pontes Peebles, “A Costureira e o Cangaceiro”.
A história se passa na década de
1930, no sertão pernambucano. Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano)
são duas irmãs que moram com a tia Sofia (Cyria Coentro) e trabalham de
costureira. As duas, apesar de se amarem, possuem personalidades distintas.
Enquanto Emília sonha em ir para uma cidade maior e encontrar um príncipe
encantado, Luzia se conforma com sua vida sem expectativas e seu braço
atrofiado, por conta de um acidente na infância. O destino dessas mulheres
sofre uma reviravolta quando elas cruzam com o bando do cangaceiro Carcará (Júlio
Machado).
A partir desse encontro, as irmãs
são separadas e as histórias paralelas são narradas nas quase três horas de
filme. Luzia fica com os cangaceiros, descobrindo um lado difícil da vida, se
vendo obrigada, por mais forte que seja sua personalidade, a aprender a atirar
para se defender, matar se for preciso, além de descobrir que justiça, às
vezes, tem que ser feita com as próprias mãos. Enquanto Emília realiza seu sonho de casar e
morar na cidade grande. No entanto, seu doce marido Degas (Romulo Estrela) não
é nada do que ela esperava e sua vida na cidade não é como sonhou. As duas
descobrem que a liberdade para seguir o caminho desejado tem um preço.
As relações que são criadas
durante a narrativa e as diferenças entre o rumo das vidas das irmãs são
construídas com base na sociedade da época e no cenário político. As tramas
estão bem amarradas e o filme leva todo esse paralelo entra as protagonistas. Corre
tudo tão bem, que o filme passa voando. Não há tanta apelação, apesar de um
clichê ou outro, como o próprio final, mas que dentro do contexto se aplica de
uma forma aceitável e não tira a emoção do todo para entrar num dramalhão.
As atuações estão impecáveis.
Nanda Costa só melhora a cada trabalho e em “Entre Irmãs”, a atriz supera todo
o seu currículo. Seu trabalho está mais apaixonante do que nunca. Trilhando
esse caminho, não há dúvidas de que ela vai ainda mais longe. Marjorie Estiano
vem de uma leva de trabalhos fantásticos, deixando seu nome como uma das
melhores atrizes de sua geração. A cena em que Emília vê o mar pela primeira
vez é um exemplo do que Marjorie tem a oferecer ao cinema. É uma cena tão
bonita e verdadeira, que é impossível não se emocionar. Júlio Machado, como
Carcará, está brilhante. Todos com um carisma capaz de conquistar salas cheias.
Cyria Coentro, apesar de fazer uma breve participação, é outro nome que não
pode passar em branco. A atriz é de tanta emoção, que deixa a vontade que sua
personagem ficasse mais um pouco em cena.
A história de duas mulheres
jovens e batalhadoras, criadas de forma simples, numa época cheia de
dificuldades, trilhando caminhos de descobertas do mundo e de si próprias fazem
de “Entre Irmãs” mais um título forte e inesquecível do cinema nacional. Não é
um filme de fragilidades femininas e sim da força que a mulher consegue tirar
de si quando precisa: sempre.
“Entre Irmãs” estreia hoje, dia
12 de outubro. Se não tiver nenhuma criança para levar para assistir uma
animação, aproveite o feriado e prestigie o cinema nacional na sua melhor
forma. Vale a pipoca, a bebida, as quase três horas e o prazer de ver atuações
gigantes.