Rita Lee - Uma Autobiografia
Preciso começar a coluna de hoje dizendo uma coisa: para o desespero de minha Mãe, escrevo com o YouTube ligado, rolando a gravação do Acústico MTV Rita Lee, que mesmo antes de eu ler o livro em questão, é um dos meus favoritos. Recomendo que faça o mesmo: role a página até o fim e dê play no vídeo; encurtei o seu trabalho e deixei o link aqui mesmo.
Mas tenha cuidado: é viciante! Eu já tenho mais de um mês só escutando Rita Lee. E quando não é ela… é alguém com a sua participação. Não é algo consciente, eu juro. Quando vejo, já estou cantarolando uma de suas músicas. E pior: posso colocar a playlist (que tem várias músicas dela) no aleatório e eu juro (de novo, mas é verdade): acaba parando nela. Não posso lutar contra o destino. Apenas o aceito e vida que segue.
Acho que qualquer brasileiro aprende, ao menos, uma das músicas de Rita Lee durante a infância. Na geração atual, em que a artista (infelizmente) está aposentada, pode até não saber qual é a figura de Rita (o que é uma pena) ou o que ela representou no cenário musical brasileiro (o que é uma pena também, mas não me espanta diante dos grandes sucessos atuais). Mas, para felicidade de seus fãs e da cultura, agora temos isso documentado pela própria, em sua autobiografia.
Lançado em 2016, o livro ocupou a posição número um de livros desejados por mim. Mas aquela coisa de lançamento versus valor de lançamento… adiei a compra. Matei a vontade na belíssima Black Friday. E aí, fui para aquela coisa de livro versus tempo e só consegui ler entre janeiro e fevereiro. Mas li. E li loucamente.
Rita começa suas histórias com lembranças do casarão da rua Joaquim Távora, 670, Vila Mariana, onde passou maior parte de sua vida. Uma casa que, graças a sua descrição, a gente consegue passear por seu porão, quartos, cozinha e demais cômodos. Uma infância feliz e divertida com seus amados pais Charles e Chesa; suas irmãs Mary Lee e Virgínia Lee; sua irmã adotiva Carú; e sua fada madrinha Balú. Um homem e cinco mulheres, o harém, como ela mesma conta.
Sua forma de contar suas aventuras é tão sincera, que parece que a própria está em sua frente, conversando. Algumas vezes, além de viver o que ela diz, você vai falar em voz alta: “sério mesmo, Rita?” ou “e aí, o que aconteceu?” É louco, porque por mais que eu goste de um livro, nunca me vi tão “dentro”, numa interação tão grande, de um como fiquei nesse. Talvez porque seja Rita Lee e ela seja uma artista que eu admiro tanto. Mas li outras biografias de pessoas que admiro e não fiquei assim.
Sua autobiografia é sincera; não há medo de contar nada sobre o que fez e/ou viveu. Não há arrodeio para momentos bons ou ruins. Ela é direta. Rita Lee não tem medo de ser quem é! E isso já uma inspiração para qualquer pessoa. Apesar de seus problemas com drogas (lícitas e ilícitas), acho que ela é um exemplo de vida. Na época em que cresceu as mulheres não tinham voz. Para fazer rock’n’roll tinha de ter “culhões” e, mesmo sem eles, a cantora revolucionou o gênero no cenário brasileiro, conquistando até o Príncipe Charles, que em 1988, declarou que sua cantora favorita era a rockeira brasileira.
Uma das partes que mais me marcou é o encontro com Roberto de Carvalho. Rob, como é chamado por ela, é o cara ideal. Ele ajudou a cantora em diversos momentos de sua vida. Se conheceram através de Ney Matogrosso, que já virou meu cupido favorito. Sem contar as músicas que surgiram dessa parceria fantástica. Um amor de outro Planeta, posso dizer. Meu relacionamento ideal não é mais coisa de cinema: é coisa de Rita e Rob.
Outra coisa que me chamou bastante atenção e fez com que eu me apaixonasse ainda mais por essa mulher fantástica, foi o fato de ser completamente apaixonada por animais. Rita é do tipo de pegar um bichinho na rua, levar para casa e cuidar com todo amor e carinho. Salvou até cobras que Alice Cooper maltratava em seus shows. Adotou jaguatirica, teve uma parceria única com Danny, sua cachorra filha… uma mulher da natureza.
Eu poderia realmente contar tudo. Enquanto digito, repasso momentos que me fizeram rir bastante e momentos que me emocionaram bastante, que acho que devo contar a todo mundo, mas perderia a graça para quem vai ler e não tem noção da história de vida de Rita. Eu não tinha. Achava que ela era porra-louca e fim. Não é. Rita Lee é muito mais do que aquele cabelo vermelho, aquela performance que só ela e Mel Lisboa sabem fazer. É uma artista que conseguiu a atenção de Elis Regina, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Cazuza e João Gilberto. Sim, João Gilberto mesmo. Imagine!
A MPB e a Bossa Nova se renderam ao rock! E um rock com letras de qualidade; com melodia. O tipo de música que ficará para sempre na história da música. O tipo de música que eu pretendo mostrar aos meus sobrinhos, filhos e quem mais me der ousadia de mostrar o que é “música de qualidade”.
Agradeço por ter “suado” para ter ido a um show de Rita Lee há alguns anos, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves e ter ficado ali, na frente, cara a cara com a maior artista que esse país, tão carente de excelência musical atualmente, tem. Agradeço por ter tipo a oportunidade de ter assistido (duas vezes, porque sou exagerada mesmo) “Rita Lee – O Musical”, onde a atriz Mel Lisboa interpreta a cantora, que ao assistir o musical disse que “Mel Lisboa era mais Rita Lee do que ela mesma”. Um carisma só!
Para quem quer ler um livro maravilhoso, se apaixonar, ouvir músicas, descobrir inspirações e viver uma vida rica em cultura, com desafios e sucessos alcançados, essa é minha dica. A autobiografia de Rita Lee é um presente que você pode dar a si próprio e a alguém que goste muito. Com certeza se tornará um presente para aqueles que eu gosto. Não consigo pensar em nada que seja melhor.
Ninguém é culpado por ser quem é, se se aceitar assim. Rita Lee é uma das mulheres mais inteligentes que “já conheci” em minha vida. A Ovelha Negra que eu queria em minha família.
“Não quero luxo, nem lixo. Meu sonho é ser imortal, meu amor.”
Inesquecível. Imortal mesmo!
PS: Se prepare para ficar triste quando o livro acabar, porque é IMPOSSÍVEL não querer mais. Eu quero. E continuarei a querer sempre.
Livro: Rita Lee – Uma Autobiografia
Autora: Rita Lee
Ano: 2016
Editora: Globo Livros
Valor / Média: R$ 30,00
Onde encontrar: Lojas físicas e online
Formato: Impresso ou digital
Publicado originalmente: http://femininoealem.com.br/25048/rita-lee-uma-autobiografia/